O cordial e esperto caipira brasileiro tem sempre um ditado para as mais diversas ocasiões. Ele diz, por exemplo, que “quem não tem dentes não chupa cana”. A frase óbvia, a princípio, tem profundidade e aplicações universais; afinal, quem não tem dentes deixa de fazer muita coisa, além de não chupar cana. Em outras palavras, trata-se de um ser humano deficiente, incapaz de desfrutar de diversos prazeres que integram a qualidade de vida e de produzir plenamente para si mesmo e para a sociedade.
Um cenário triste, mas infelizmente uma perspectiva pouco enfocada na sociedade brasileira. A saúde odontológica, em geral, é relegada a segundo plano (senão último) pelas autoridades de saúde pública, pelas empresas e até pelos donos dos dentes. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, aos 35 anos, 20% dos brasileiros já perderam todos os dentes. As doenças na gengiva estão presentes em 90% das pessoas com mais de 45 anos. Doenças essas que, por falta de tratamento, acabam levando a metade da população brasileira a ficar sem dentes, aos 55 anos, ou morrerem do coração por endocardite bacteriana (doença infecciosa cuja bactéria teve acesso ao coração através de dente mal conservado).
A pergunta é: qual a qualidade da vida e do trabalho dessas pessoas?
Afinal, a boca é um dos órgãos mais importantes do corpo humano. Ela tem papel fundamental em funções vitais do organismo. É na boca que se inicia uma digestão saudável, através da preparação do alimento para o aparelho digestivo.
Mastigação deficiente significa alimentação deficiente e, consequentemente, organismo deficiente, com baixa resistência tanto para o trabalho como para a defesa contra outros tipos de doenças. Mas não é só isso. A boca é um meio de expressão, de relacionamento. A sua saúde é importante para a formação psicológica, para a auto - estima e para a capacidade de produção do homem. Ausência de dentes, dentes doentes ou infeções bucais são fatores inibidores da personalidade. Os prejuízos, em geral, são sub avaliados porque a boca é talvez o principal ponto de contato com diversos prazeres da vida.
Sem dentes, perde-se a capacidade de desfrutar com plenitude os prazeres do paladar, da fala, do sorriso, do beijo e até da música.
Nada expressa melhor a plena realização humana do que o sorriso. E nada inibe mais um sorriso do que a carência de dentes.
Esse é, em rápidas pinceladas, o quadro de deficiências imposto a uma imensa maioria da população brasileira, sejam jovens ou idosos, e que, afinal, explica um pouco porque a produtividade do trabalhador, no Brasil, é considerada uma das mais baixas do mundo.